A sensação de posse, o prazer da posse, o sentimento "posse". Isto está difuso por toda a sociedade desde seus primórdios e em todas as situações, mas discurso sobre esse sentimento relacionado à afetividade.
Quando criança ouve: não pode, não deve, não é teu, é teu, é meu, me dê, tome. E é quando criança que entendemos, mesmo que inconscientemente, como funciona a sociedade em que iremos viver e pronomes possessivos estão bem espalhados, mas também podemos aprender a pensar.
Meu tio, meu pai, minha casa, minha família, minha esposa, meu cão, minhas roupas e este céu todo de deus. Tudo tem que pertencem a alguém, até mesmo todas as terras, se não estão cercadas aparentemente é por que pertencem ao Estado e ele cerca todas elas sem usar de arame, pregos e vigas de madeira.
Quem tem é o detentor daquilo, e ninguém mais é, nada mais incomum do que ver benevolência no bem querer comum, onde algo pertence a mais de uma pessoa, ficamos maravilhados e comovidos com situações assim. É imprescindível perceber como seria estranhos aos olhos da sociedade onde vivo cinco pessoas diferentes, de famílias diferentes, com passados diferentes, fiéis em pensamentos diferentes e com profissões diferentes possam viver harmoniosamente em conjunto apenas visando o bem comum. Elas necessitariam de posses, seus objetos, suas privacidades, suas intimidades, suas singularidades e isso arruinaria qualquer associação entre elas.
O homem saiu do campo onde era dono de sua família, seus animais, suas plantações e seus escravos, agora na cidade ele é apenas dono de sua vida e com limitações, várias condições impostas para que continue usufruindo de sua liberdade, ele acaba apenas dono de sua TV, seu carro, sua casa e seu familiares.
Aquele é João, meu vizinho, e aquela é Denise, minha filha.
Este mesmo homem morreria defendendo suas posses quando já eram muitas, agora limitadas, como não entender que qualquer ameaça deve ser levada a sério, privar-lhe de poucas posses seria quase como a liberdade que tem, a liberdade de ter posses. Liberdade não seria, antes de tudo, a inexistência de possuidor?
Eu não sei como eram as pessoas antes de mim, nos livros apenas adultos falam e poetas rodeiam, então o único contato que tenho contato que tenho é com a minha geração e esta que a precede, neles vejo a necessidade de ter algo. Eles, que pouco o nada tem, vêem nas pessoas que estão ao seu redor uma oportunidade.
Meu amigo, minha namorada, meu "ficante".
E nesse contato direto entre eles, até mesmo no que toca sobre a amizade fica hostil se as posses forem escassas. Quem tem poucos amigos não quer facilmente intrusos no grupo, principalmente se forem substituir sua função.
Outro piadista, outro nerd, outro fofoqueiro ou até mesmo apenas outra pessoa bem companheira. Iriam deixar de contar exclusivamente com aquele indivíduo se os dois apresentarem as mesmas características. Ele perderia o que tem.
Simples como o fato de possuir é a relação amorosa entre as pessoas. Elas se pertencem, mutuamente e por sua própria vontade. Lendo o que as outras pessoas escrevem encontrei quem diga que somos três em um, onde dois querem coisas diferentes, entre suas vontades pessoais e sua necessidade de agradar à sociedade e um terceiro que tenta atender aos demais oportunamente. Não podemos viver apenas de nossos desejos, já que haveria algum que esbarraria no desejo de outro e não podemos nos sufocar nos desejos da massa, tal submissão iria ser privação de felicidade para o indivíduo.
Temos que ceder e impor que cedam.
A relação entre isto seria simples, sem mais posses para se preocupar, na relação amorosa onde um pertence ao outro e cede a posse de si concluindo em um circulo, um elo entre eles. A solução mais simples é mais coesa e sem muitas posses para se preocupar, ao menos instantâneamente isto satisfaz, ao meu ver, os enamorados.
Mas o problema começa na minha concepção de relação terna, onde o sentimento amoroso por outra pessoa não se baseia em posse, mas em carinho, afeto.
A pessoa a quem gosto deve estar feliz comigo, feliz com a sociedade (leia "seu círculo de relacionamentos") ou feliz consigo mesmo? Ela fica feliz consigo tendo a minha "posse", mesmo que nada no mundo lhe dê a certeza que isso é a verdade plena. Ela fica feliz estando acompanhando a sociedade e assim vivendo sem pertubações ou pressões.
No que toca sobre a amizade as pessoas que acompanhei em momentos da minha vida mostram-se preocupadas com o bem estar do próximo consigo mesmo e a família em algumas vezes acaba se preocupando com o bem estar dele com a sociedade, para que ele não sofra com a força desta.
Então as conclusões seriam que todos querem nosso bem. Alguns querem que não soframos com a força imposta no âmbito social, outros querem que não soframos pela falta de uma posse, estando assim em nossa companhia onde os amigos por tempo inferior aos enamorados mas com condições mais suaves.
Quem está preocupado com o que sentimos sem cobrar mais do que o mesmo? Quem se imporia conosco buscando nossa liberdade sem, no máximo, querer a ajuda para o mesmo?
Os pensamentos que tenho, mesmo que em meu corpo padeçam, nunca deixarão de me pertencer, mesmo que algo faça que alguém acredite por certo tê-los. Vou cuidar deles com carinho e dizer aos outros que me dêem algo em troca do que querem que eu lhes entregue, mas é só para não virem sempre pois quero ter tempo para os meus pensamentos e conseguir compartilhar o melhor de mim com quem assim se dispor.
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