Feliz Natal



Eu sou hétero? Você sabia? Bom, não sei o motivo mas isso já não me parece tão óbvio que não precise ser dito.
E fui casado cinco anos com uma menina. Dos 19 aos 23.
Ela era boa mulher, machista, tradicionalista, professora, pedagoga, duas graduações, um mestrado, quase foi freira, nordestina, criada sem os pais, acho que a vida testou ela e aprovou.
Veio morar comigo meio que a contra gosto meu, eu não queria nem namoro, quando me vi estava perdido em vários, problemas. Havia outros que eu queria resolver, acabei sem resolver nenhum.
Ela não morava na minha cidade, logo, para morar comigo, ficou desempregada. Desempregada de seu emprego em escola particular e outro concursado em escola pública.
Mas ela já parecia estar acostumada a esperar, acostumada com tempos ruins.
Ela ficou, eu deixei.
Como mulher machista que era tolerava minha raiva, minha raiva vinha do descontrole para com a minha vida. Mas em casa ela agia conforme todo estereótipo que se possa imaginar, tudo limpo, comida pronta.
Não posso dizer que não gostava, nem que gostava, eu não a amava. Cinco anos sem dizer isso a ela, sem dizer isso a ninguém.
Eu, desde o primeiro ano, ensaiava fugir de casa. Fugir dela, fugir de mim, da minha vida.
Ficava até tarde fora, dormia fora se possível. Achava ruim o dia de trabalho demorar em acabar, achava ruim quando acabava.
Foi assim todos os anos, querendo a tornar independente para que ela, cansada de mim, possa ir. Ela querendo continuar dependente e dividindo as atividades, fazendo a parte dela e pedindo para que eu fizesse a minha. O tempo passando e as coisas melhorando.
O primeiro ano foi difícil, com ela desempregada e comigo ganhando pouco. No segundo ela conseguiu um meio emprego, professor tem disso de trabalhar só meio dia. No terceiro já conseguiu um emprego e meio, estávamos ficando bem financeiramente, mas ela trabalhava o dia todo mesmo, até à noite, e eu era o mototáxi dela.
No quarto o terreno que colocamos dinheiro já estava virando casa, o esforço em fazê-la dirigir já tinha se transformado em um carro para ela, a casa já tinha vários móveis novos.
Ai eu conheci outra garota, no meu trabalho, ela parecia tão feliz, tão cheia de alegria, disposta, ousada, também com outra história de vida sofrida, mas era a alegria que eu queria, a alegria doce que tinha gosto bom, mas eu já não me recordava como era.
Uma vida na qual eu não sabia o que era alegria e que me foi empurrada goela abaixo ou aquela vida sem tristezas que abalassem o humor. Fiquei nessa indecisão algum tempo, muitos problemas e no tempo que os separava uma resposta ecoava "foi o que você pediu para sua vida todos os dias dos últimos anos".
Em meio a tantas decisões comecei a receber a pressão esperada para acabar com aquilo. E a outra menina também resolveu pedir solução, ou cá ou lá. A situação incomodou a todos e eu que resolvesse, já que criei o problema, já que ele era só meu.
Primeiro mandei a menina do meu trabalho me esquecer. Eu gostava muito dela, mas tinha coisas para resolver, coisas que ela disse que não eram problemas dela e enquanto eu os resolvia eles poderiam a atingir.
Depois fui terminar meu casamento. Nenhuma recordação boa o suficiente para me manter nele existia.
Apenas uma relação harmoniosa, mas insuficiente para minha sede de alegria.Acho que fiz as escolhas erradas para minha vida, ou as oportunidades que se apresentaram de forma desorganizada. A alegria descompromissada que eu queria para meus dias de quartel veio quando eu já pensava na tranquilidade de um lar calmo.
Sai de casa, minha ex passou a me desejar bem e mal, hora me queria de volta, hora queria me prejudicar. Só seria uma boa pessoa se estivesse com ela. Já não me achava feliz, ser tido como posse só me fazia certo da minha escolha.
Fui o quando antes atrás da outra menina, já haviam se passado alguns meses, ela estava namorando. Eu pedi para estar com ela, ela aceitou, disse que terminaria o namoro e retomávamos de onde paramos, para melhor, desta vez namoro e caminho unido.
Conheci familiares, passeei com eles, morava mais perto dela, mas perdi a cachorra para a ex, que pediu para ficar um pouco com ela e nunca mais devolveu. Talvez vontade de me tirar algo. Comecei nova vida, cheia de esperança, e aprovado no vestibular para direito!Fiz escolhas, sai do emprego que mais gostei na vida para outro, longe, mas que pagava melhor, eu já não queria pensar somente em me sustentar, queria agora uma casa e família.
Nem tudo são rosas, as faltas na escola para encontrar a menina dos olhos me frustraram, a falta de amigos e da atenção dela também e o grande poço de alegria já não parecia mais tão disposto a sorrir para mim.Logo vem a notícia, ela disse que estava a cativar outra pessoa, que não me queria dependendo dela e que eu a sufocava.Uma segurada firme que dei no braço dela deixou marca, que eu nunca vi, talvez não tenha visto nada naquele dia. Pediu-me para ir levar uma sacola até a escola dela, que quando voltasse resolveria tudo, ficaríamos juntos e bem.
Voltei e fui recebido pelos parentes dela, me pedindo que fizesse o favor de desaparecer.
Entramos em contato uns dois dias depois, ela disse que foi obrigada a dizer que não me queria mais, que precisávamos agora nos encontrar sem que eles soubessem pois eram intolerantes conosco.Eu aceite, claro, sem pensar. Não havia dúvida em mim da palavra dela.
Algum tempo depois, com ciúmes de conversas e interesses com um rapaz com o qual ela queria marcar encontros, conhecido apenas da internet, me deixou ver suas conversas virtuais.
Eu já havia, muitos meses atrás, oferecido acesso às minhas, mas ela recusou dizendo que eu estaria apenas querendo trocar meus segredos pelos dela. Não é verdade, queria apenas provar a ela o que muitas já sabiam, não gosto de mentir, não gosto que duvidem de mim e gosto que me conheçam, não faço questão de ser misterioso ou ter segredos.
Ela já havia desistido deste rapaz, por isso fiquei sabendo dele. E estes meses atrás em que ela negou aceitar ver minhas conversas (eu queria que sabendo o que converso se sentisse mais confiante, me conhecesse e,... não importa) ela estava a chamar outra pessoa de seu amor, um mês antes de me contar, um mês ao contrário da semana que disse que passou cativando outra pessoa.Viajou com ele, apresentou à família, a mãe e ele fizeram amizade, um mês antes de me contar, um mês depois enquanto eu era o rapaz que ficava com ela escondido.Não poderia mesmo ter tempo para mim, eu a sufocava em seu trabalho de dar atenção à tantas pessoas ao mesmo tempo.Não poderia estar com seus amigos e comigo ao mesmo tempo. Não poderia ser vista passeando comigo. Certamente, sufocante.
Também descobri que o namoro do começo do ano não foi terminado quando foi me dito. Demorou um pouco mais de um mês, no que ela descreveu para uma amiga como "um dia com um, um dia com outro, no próximo fico em casa".


Feliz, ou infelizmente, estas conversas ela se enganou ao tentar apagar, algumas outras conseguiu, dúvidas ficaram no ar, rapazes que ela gostava de exibir para as amigas e dizer que teria tido alguma relação com eles, notícias minhas ditas por ela para seus amigos, amigos que ela dizia que eu deveria ter mais proximidade, amizade, amigos que ficavam sabendo mentiras ao meu respeito por ela.
A pessoa à qual confiei a guinada na minha vida só fez me enganar, mentir.
O curso estava cheio de faltas, o novo emprego não era agradável, o meu carro foi roubado, logo mais minha moto seria apreendida injustamente pela polícia, algum tempo depois terminaria roubada.O dinheiro gasto com as roupas dela, com o computador que pediu dizendo que pagaria por ele mensalmente, o dinheiro desprevenido que eu precisava quando ela parou de trabalhar.O sonho de outrora agora parecia pesadelo, o ano prometido soava como arrependimento, os dias tristes do passado já se assemelhavam a um desejo.Depois de alguns dias sem comer, com raiva da situação ao qual me encontrava ofereci vender o computador para pagar contas, comprar coisas que nos faltavam, ganhei um tapa na cara e ela o caminho da rua.Foi triste, foi um atestado da minha falha, semanas se passaram com ela desempregada e comigo tentando lhe explicar que era verdade que de nada era obrigada, mas que eu precisava acreditar que aquele esforço era nosso e não só meu.Falhei muito, em diversas formas, em acreditar naquela miragem, não havia poço de felicidade, era só mais areia.Em dias de festa a deixava na porta da casa dos parentes, proibido de entrar pois fazia mal para aquela família. E deveria a esperar na porta ao buscar, pois devia respeito à eles, pois deveria cativá-los pois eles eram a segurança dela e ela não queria perder isso.Não que um dia sequer vieram até nós saber como estávamos, digno também, já que ela saiu de casa por dizer ser humilhada lá, no mínimo eles eram condizentes em não querer saber como ela estava.
Morava comigo, era pega constantemente mentindo para mim. Mas o tempo passou e ela conseguiu emprego, mais otimismo, novidades, esperanças, um novo alguém para ela querer flertar, que também demonstrou interesse nela, e mesmo sem dinheiro para me pagar uma refeição ante tantas que lhe paguei tinha o suficiente para dar de amigo secreto uma peça de roupa mais cara do que qualquer uma em meu guarda-roupa.
O natal acabou e ela brigou muito comigo por eu ter me intrometido, talvez frustrado as chances dela, com o rapaz ao qual flertava. Perdido as chances de melhorar de vida, abandonar e desconfiado rapaz que tem gosto amargo de traição para algo mais pueril e encantador. Como pude fazer isto? Como pude querer ela para mim de forma tão egoísta que a podei felicidade.
Prefiro pensar que não, prefiro dormir crendo que só pedi o respeito de que o fizessem, seja lá o que quisessem fazer, longe de mim, de que não fizessem planos diferentes dos planos que ela fazia comigo sem me contar. Algo que não me ensinaram na escola, suplicar a outra pessoa dignidade em tratamento, pois agora, lendo, me parece ilógico ou paradoxo.

A imagem abaixo é grande, e é um dos motivos que me fez levar puxão de orelha. Clique nela para ampliá-la.


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6 comentários:

Anônimo disse...

Como você pode? Não entendo!

Anônimo disse...

Ele fez isto porque precisava de uma coisa que o fizesse vibrar com a vida... Poia a vida com uma mulher decente que sabia o que fazer ou não fazer dentro de casa, que o fez crescer como um homem, não era o suficiente, ele precisava de algo maior, algo que o tirasse o folego... agora ele está pagando um preço alto por uma escolha ruim da vida, talvez tenha acontecido desta forma, para que ele aprenda a valorizar os sentimentos dos outros, e não somente o Dele...

Anônimo disse...

Entendo vc, pessoa que comentou acima. Ele realmente fez uma escolha estupida.
Mas afinal de contas, o q vale a outra opinião? Ele conta o q aconteceu para q essa garota fizesse isso? Ele conta como a enganou quando ela descobriu em um terrivel telefonema no serviço que ele tinha outra? Ele conta que ela foi demitida e expulsa se casa por causa do erro dela mesma?
Isso ele não conta.
Eu nao sou o poço de felicidade que ele queria. Eu me tornei umazinha qualquer, que procurava qualquer coisa pra sanar o erro.
Mas obrigado por postar meus escarinos. Talvez devesse mesmo repensar essa relação.

Ass: A garota má a qual o texto se refere.

Anônimo disse...

Não tenho nada com isso, acho-me até infantil demais para julgar relações como essas mas, agora que conheço os dois lados, pergunto a você "A garota má a qual o texto se refere", o fato de ele ter cometido um erro justifica você agir como age? Oras, se todos agíssemos como tu aonde estaríamos? Porque você não o deixou quando soube que tinha outra? Acho que isso seria o mais razoável não? Será que você não usou isso como escudo para seus próprios erros, usou como desculpa para aprontar e não se culpar? Não jogue nas costas dos outros aquilo que lhe pertence.

Anônimo disse...

Como eu amava ler o que vc escrevia... lendo este texto, me pergunto... o que aconteceu. ? Qual fim ou começo levou esta historia?

Anônimo disse...

Oi, não sei se vai ver este comentário... mas preciso saber, que fim levou toda esta história?