A mesma menina dormindo, sem maquiagem:
A foto dela maquiada não me trás nenhum desconforto, é o que estou acostumado a ver de meninas maquiadas, vejo nas ruas, nas lojas, nas revistas, na televisão, mas não encontro em casa, não comprimento no churrasco, não passam por mim correndo, não as pego elas subindo em árvores, não observo elas sorrindo, não contemplo elas de braços abertos embaixo da chuva. Não sinto elas felizes com alegria própria, só uma alegria emprestada que estão querendo vender para elas, ou já venderam.
A segunda, dormindo, relaxada, descontraída, me parece real, me identifico com ela, me parece humana, com poros, com fios de cabelo espalhados, com tonalidades de cores, vida.
Coisa de pessoa insegura e sem autenticidade ou sem coragem de seguir seus próprios caminhos. É para mim muita vontade de parecer outra coisa qualquer que acha mais bonita e segura.
Definimos o que é perfeição. Costuma ser a ausência do que não queremos. O que é imperfeito nelas? O que não querem? Há que motivo escondem quem são? Talvez seja só brincadeira, diversão, pode ser só um jogo, e eu estou olhando pela janela enquanto perco mais uma rodada, eu estou colocando pó de suco de limão na minha caneca de barro assado para tomar com água.
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