Espantalhos extremistas

Uma das minhas professoras, em seu blog, compartilhou uma mensagem que me chamou a ler, pensar e ter vontade de comentar. Segue:
A voz contraditória das ruas

Volto ao teclado, enquanto vocês voltam às ruas, porque fiquei intrigada com algumas postagens que li em uma página dedicada aos protestos em Londrina. O primeiro post que me chamou a atenção, felizmente, não havia sido premiado com nenhum "curtir" e estava caindo no esquecimento ao fim da página. Era de um esquerdopata raivoso, expulsando os "reaças" da "sua" marcha particular! Segundo esse hábil político, quem acordou só agora, ou seja, quem nunca participou de movimentos sociais, não pode se juntar a eles tão tardiamente em protesto algum. Engraçado, então, até agora, ele gritava para não ser ouvido, visto que não aceita adesões?
Bom, fazendo uma leitura caritativa da mensagem dele, pode-se dizer que seu temor é que os novatos tragam causas que não são as dele para a vitrine do protesto. No caso, ele se mostrava especificamente furioso com protestos contra a corrupção. Veja só, você que, até hoje, imaginava que fosse consensual a valoração da corrupção como um mal a ser combatido, saiba que os socialistas, aparentemente, não vêem qualquer problema com ela. Não gostar de corrupção, pasmem, é só um preconceito neoliberal!
Tá bom, vai, estou sendo maldosa de novo. Voltarei a ser caridosa. Não é que socialistas não enxerguem a corrupção como um mal. O fato é que eles sabem que a corrupção é um mal inerente ao Estado intervencionista onipotente, portanto, eles sabem que, concedendo a necessidade do combate à corrupção, entram na nossa agenda liberal de redução do Estado. Sacou?
Muito bem, deixando de lado nosso amigo vermelhinho de raiva dos reaças, quero comentar outro post. Este último foi escrito por um típico rapaz da classe média alta brasileira. Nada de radicalismo em sua mensagem, mas também nem uma única novidade. Qual era seu ponto? Talvez, ele até fosse o reaça que tanto incomodou o esquerdopata, afinal, ele estava preocupado com os poderes investigativos do Ministério Público, portanto, com o combate à corrupção.
Mas o que me chamou a atenção no discurso dele foi aquele velho clichê brasileiro: não há o menor problema com o tamanho da carga tributária brasileira, mas apenas com a destinação desses recursos. Ora, a utopia política brasileira, todos sabemos, é a falida social-democracia européia (aliás, xiiiii, falemos baixo, eles não sabem ainda que o Estado de Bem-Estar Social faliu e afundou a Europa, e não queremos perturbar a fantasia de um gigante que agora sonha acordado, não é mesmo?)
Agora, façamos um paralelo entre a utopia socialista do radical mal-educado e a utopia de classe média do bom moço. O que ambas têm em comum? Simples, ambos não querem cuidar da própria vida com o dinheiro que ganham. Eles preferem que o Estado confisque a renda deles - e você vai se lembrar que mesmo o moço de discurso moderado disse que o tamanho da carga tributária não importa, podendo, portanto, chegar a 100% - e adquira bens para eles em nome deles. Basicamente, você trabalha e, no fim do mês, em vez de pegar seu salário e decidir se poupa, compra roupas ou viaja, você entrega o dinheiro para o seu pai e deixa que ele decida o que fazer por você com seu dinheiro.
Ah, você vai dizer que, de novo, estou sendo maldosa, pois estou omitindo a ideia de que, na verdade, todos nós juntaremos nossa renda e decidiremos juntos como gastar o total. Olha que bonito isso, gente! Só que, deixando de lado qualquer questão sobre a justiça de obrigarmos alguém a participar da nossa cooperativa, ainda temos um probleminha. E quando houver divergências sobre o uso dos recursos? Você há de admitir que um corinthiano roxo bem poderia optar pela construção do seu Itaquerão, em vez da construção de um pronto-socorro, não é mesmo? Como vamos resolver o conflito se você, por sua vez, quiser o pronto-socorro? Ou melhor, quem vai resolver: o comitê central do partido ou a simples maioria da população? Acho que você dirá "a maioria" (eu sei que a democracia é seu dogma favorito). Agora, e se fizermos um plebiscito e a maioria decidir que topa, sim, os gastos com a Copa? Pense bem, o Brasil tem mais de 150 milhões de habitantes e muitos deles nem têm Facebook. Talvez, muitos ainda ouçam o futebol no radinho de pilha! Talvez, eles tenham valores bem diferentes dos seus, viu? Ou, ao menos em tese, eles podem ter (e isso basta para meu ponto - ha ha).
Olha, agora, eu já tenho tudo que eu queria para minha conclusão: quem quer mais Estado (não menos!), quem não se importa com o tamanho da carga tributária, necessariamente, delega a outros o direito de decidir o que fazer com seu próprio dinheiro, no máximo, ficando com o direito a um votinho em meio a dezenas de milhões. Então, amiguinho, se você pensa assim, não venha chorar depois se o seu dinheiro não for gasto com aquilo em que você o gastaria. Aquele que abre mão da condição incondicionada de todos os direitos, a própria liberdade, perde com ela todos os demais direitos! Portanto, ao fim e ao cabo, só liberais/libertários conservam o direito de protestar com coerência. O resto, que se entregou à tutela do Estado, que vá chorar na cama que é lugar quente, eu é que não me comoverei com seus protestos!
A postagem original dela, e uma imagem que acompanha, podem ser encontrados no blog dela.
Segue agora, meu comentário:
Impostos, corrupção, liberalismo, socialismo, família, gigante que ainda não lavou o rosto e ideias brotando. 
Ah professora, rebater a, podemos chamar de ideia ou ideologia?, destes exemplos chega a ser desmerecedor para seu intelecto. Talvez não tenham lido O Caminho da Servidão - só de exemplo de liberalismo - e acreditem que a fábula de carga tributária escandinava salvaria o Brasil, devem ler estes blogs esquerdopatas como Diário do Centro do Mundo.
Eu fui funcionário público em Apucarana, depois em Arapongas, recentemente em Londrina e agora trabalhando em Cambé, e não acredito que simplesmente dar mais dinheiro aos cofres públicos melhoraria a vida dos brasileiros, temos funcionários muito mal preparados ganhando demais e com responsabilidades incompatíveis com suas habilidades (pedagogo que trabalha como administrativo de RH e ainda lida com compras públicas sem saber, ao certo, utilidade do MS Excel frente ao MS Word, passando longe de um conhecimento sobre seu trabalho que seja digno do tempo e função exercida).
Não gosto de impostos, não gosto sequer de condomínios, mas gosto menos ainda do abandono dos semelhantes que o liberalismo deixa para trás. Aceito que foi sempre assim que aprendi a viver, mas não gostei e não quero praticar. Talvez quem pregue a importância da família goste de ter um número bem limitado neste grupo, eu gostaria de dizer que a minha são os milhões deste país tropical, ou até mesmo os bilhões da minha espécie nesta grande gota azul. E não gosto de vê-los ficando para trás, não uso um hospital a anos mas que continuem usando parte dos impostos que pago para mantê-los, para quem não consiga pagar por eles.
Precisamos de um sistema penal pois a sociedade precisa acreditar que não deverá haver impunidade para convivermos pacificamente, tudo bem, eu preciso acreditar que não deixamos os semelhantes para trás, que eu não serei deixado para trás, para querer colaborar com esta sociedade.
Das várias hipóteses do que poderia acontecer se aumentarem a nossa contribuição para a máquina estatal a que mais rápido me chega seria o aumento da corrupção, já que a sociedade ama sua família, não ama a sociedade.
Com estes parágrafos mal organizados eu tentei explicar que maiores percentuais de impostos não melhorariam imediatamente a nossa condição de vida, mas que os maiores e essenciais gastos (educação e saúde ou o que concordarmos), por fazerem um bem para a sociedade plenamente, não deveriam ser individualizados. Infelizmente se minha família quer comprar uma TV e eu sei que não vou assistir (ou quer pagar um estádio), esse é o preço de não conseguir persuadi-los do contrário, mas mesmo assim não quero a cena de bar em que todos sacam suas calculadoras, pois rimos juntos, vamos pagar juntos. Seja na risada ou na lágrima, também não quero abandonar estas pessoas quando, de madrugada, precisarem de um hospital, faremos para ela o possível! E ainda assim deverá haver uma significativa quantia de dinheiro para que eu possa escolher o sabor do sorvete no fim da tarde.
Limitemos nossa contribuição com nosso síndico federal ao consenso de todos, porém nivelados para cima da dignidade mínima a ser concedida a todos, mesmo que nos percamos ligeiramente na definição do que faz bem a todos. Talvez a recreação, tão heterogênea, seja um exemplo do que poderia ser individualizado.
Seja para o progressista que acredita que encontrou um clubinho, para o classe média na sua cruzada pela moral ou para o intelectual que perde quase 30% do seu salário só para o IR, desculpem os erros, são de todos, e acreditem que juntos somos melhores.
Deixo anotado que não desmereço os funcionários públicos frente aos trabalhadores da iniciativa privada, já trabalhei para o comércio e indústria, não há distinção significativa.
"All in all it was all just bricks in the wall." Pink Floyd
"Cuida do homem ao teu lado, faz isso com esmero e destreza. Numa média entre competência e sorte, voltarão todos para casa, vivos." Comum de se ouvir enquanto estava no exército.
"Quando não está sozinho a tristeza pode ser dividida e a alegria multiplicada." Um morador de rua me disse isto.
Related Posts with Thumbnails

Nenhum comentário: