Para quem precisar

Abro a porta do carro para ela, é só uma gentileza. Escolho uma mesa por ela, é só uma gentileza. Puxo a cadeira para ela sentar, é só uma gentileza. Pago a conta dela, é só uma gentileza. No final da noite ela diz que é feminista, ai você que escolha o que pensar dela.


É como uma religião destas que se reproduzem velozmente, um pouco desta aqui, desta outra e como quem visita uma destas sorveterias 'sirva-se à vontade', uma nova ideologia é montada.

"Quero ser tratada como uma inútil no que o machismo me favorece, mas quero também as liberdades e direitos que estão previstos no feminismo, quero igualdade, mas só quando eu quiser. Feminismo para quem precisa de feminismo, e no momento oportuno."



Lendo de Marcuse a Alexandra Kollontai e Wilhem Reich para ver se aprendo a ser mulher, quando aprender vou ensinar algumas que pensam que o são. - sim, homem hétero escrevendo isto. e o fato do texto ser uma descrição heterossexual não quer dizer que só o serve para este modelo de relacionamento.

Renée Côté me contou que a greve de 1857 é de mentirinha. Clara Zetkin, Rosa Luxemburgo e Alexandra Kollontai que se levantem e ajudem aqui.


A frase de Marx, “A opressão do homem pelo homem iniciou-se com a opressão da mulher pelo homem”, demorou para ter consequências, mas teve. Neste momento uma pausa para relembrar Paul Lafargue e Laura Marx e o livro Direito à Preguiça.

August Bebel e A Mulher e o Socialismo. A Nova Mulher e a Moral Sexual, de Alexandra Kollontai.


Mas deve ter um motivo. Devo partir do princípio que sou um tolo e não enxergo tudo que vejo.
Talvez uma mulher que pense assim namore um homem machista, que paga suas contas, a elogia despropositadamente, enobrece a postura dela sem nenhum fundamento e, como sempre, diga que ela é especial somente por existir, pois sobreviver a este mundo cruel já faz dela uma heroína notável, és merecedora. Um relacionamento confortável, o macho protetor, ciumento e viril. Se esquiva dele no momento em que não lhe agrada, quando ele vai dizer aos outros que ela 'é dele', quando vai a puxar pelo braço ou menosprezas seus predicados, pois, ela ainda é uma mulher, deve se lembrar disto, pode ser linda, mas é uma mulher. Precisa manter certa distância nos momentos certos, só quer o que lhe agrada, o que lhe faz bem.

Com seu ego em pé ela tem também outro namorado, este, feminista, a trata em igualdade, a ouve, lhe faz perguntas, discute e com ela toma decisões. É bom pensar que está ao lado de quem a trata como um igual, onde ela pode se conhecer e aprender, onde os elogios não são falsos. Talvez neste relacionamento ela se sinta menos protegida, porém mais livre, menos confiante pois suas medalhas não vem sem suor, não recebe carícias desmerecidas. Deve sentir falta do carinho que recebia por ser linda, da desnecessidade de abrir a carteira, de ter menos responsabilidades, do homem-pai-guarda-costas. Mais direitos acompanham mais obrigações.


Mas nada é tão bom, isso a desconforta, conhece o melhor dos dois lados e quer ambos. Como os homens não são divididos apenas em extremismos haverá bons meios termos, mas jamais o melhor de tudo que existe, que frustração. O homem que a trata como uma igual não vai querer isentá-la de responsabilidades.
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