Vida diferente merece castigo

"A polícia quer te matar, você precisa pagar impostos." Mamãe alertava

Mamãe gostava de mim, acredito eu, me ensinava uma ou outra coisa que custou-lhe aprender para poder sobreviver. Me ensinou que ser diferente tem preço, tentou colocar na minha cachola que sou branco, para poder compartilhar da aversão a negros que detinha todos que me rodeavam.
Não seja gay, não seja comunista, não seja inteligente demais, não seja burro, não queira ser esperto, não aja como retardado.
Eu tentava não desapontá-la, não gostava de meninos quando criança, mas também não gostava de meninas, eu gostava de Pokémons e Super Nintendo. Não sabia o que era comunismo, infelizmente fui pego uma vez dividindo várias moedas que tinha com outras crianças, para mim elas viam alegria naquelas moedas e eu via alegria em ficar cercado por pessoas alegres, mamãe não gostou, capitalismo e individualismo eram regras, leis.
Mamãe falou que quem não reza para o capitalismo e para o individualismo vai ser enterrado em cova sem nome, sem enterro cristão

Não estudava em casa, medo de ficar inteligente, os inteligentes se destacam e passam a ser odiados, não devo me destacar, não devo. Mamãe gostava de 8 e 9, ignorava o 10 e me batia abaixo do sete.
Também não o era tão burro, sempre, era só às vezes, de malícia, para ficar na média, tentar enxergar o mundo como todos, tarefa das mais difíceis. Tinha aversão a ser esperto, os via como pessoas maldosas, infelizmente não conseguia deixar de agir como retardado. Ao menos havia sido orientado, não poderia reclamar de ser punido.

Mamãe falou para não deixar de rezar para o deus Emprego, ou viverei exilado com os cães no país Sarjeta

Ontem agi outra vez como diferente, fui impertinente com a sociedade, não reparei muito bem nos gruídos que ela deu, mas para o meu bem há quem me dê os pitacos, depois, para me alertar. Ainda vou subir na minha bicicleta de barra circular, com minha vara de pescar, minhas vestes de samurai, e irei até o gramado perto do rio que corta a cidade, lá tem um grande banco de madeira onde vou ficar sentado, vou assistir os cachorros correrem com seus humanos.
Estou disposto a pagar uma grande quantia para ser. Me doutrinem a pensar como todos ou me deixem sentado aqui. Sinto apenas por quem quer se sentar ao meu lado, será também penalizado, mas logo conversarei com eles, não sei se foram avisados do custo de ser diferente ou tão somente querem estar ali, desavisados da culpa que carregarão.


Dói menos se aceitar a ideologia dos fortes, dizia, enquanto me batia
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