Ciclos históricos

Blog Meus Nervos - Manifestações - #VemPraRua

Quinze de maio, Espanha, começa o movimento ¡Democracia Real Ya!, e seriam iniciadas outras manifestações nos dias seguintes sobre um tema imutável para o mundo depois da gerra fria, nosso modelo de democracia. A democracia indireta (que concede as eleições diretas no Brasil desde 1989, para ilusão de alguns) está em xeque, tem que reagir para superar esta crise em vários países.
Nos E.U.A., as leis regionais de cada estado somado aos variados plebiscitos sobre vários temas tenta aproximar a população e não desgastar a imagem dos políticos em temas polêmicos de serem aprovados, já outros países onde os políticos, após eleitos agem como déspostas, já podem iniciar um repensar de todo o sistema, ao menos foi o que entendi com Manuel Castells, sociólogo espanhol e estudioso dos movimentos da era digital.
A Turquia ainda estava lutando pelo direito de protestar, em um país conservador conseguir mudar o destino do parque de Gezi já foi uma conquista. O Egito conseguiu depor Mubarak, ele ganhou grande oposição pela forma que a polícia reagiu aos protestos - centenas de mortos - e os protestos nem eram inicialmente contra ele, infelizmente o novo governante já está centralizando o poder e retomando o estilo Mubarak de governar com ainda mais força.
Na Espanha os protestos se assemelhavam aos atuais no Brasil, um clima apartidário e sem ideologia, não se declarando de esquerda ou de direita num clima de 'a favor de todos e contrários à ninguém' não conseguiram um foco em um campo de mudanças sociais. A reforma eleitoral, a crise imobiliária e a corrupção ganharam olhares mais atentos da mídia e entraram na pauta dos políticos. Novas manifestações, de estudantes, novamente contra as medidas de austeridade, foram reprimidas com mais empenho da polícia, porém esta forma de participação popular direta foi exportada, Portugal e Grécia aprenderam.
Blog Dançandosemcesar - Veraneio Vascaína - A ordem é a seguinte: quem estiver querendo colocar essa tal de democracia em prática, leva spray na cara!

No Brasil a versão do Democracia Real Já!, tradução minha, já pode ser visto nos políticos que estão abraçando o apartidarismo das manifestações. Com intuito inicial de apenas dizerem não estar angariando votos para nenhuma legenda, um ruído nos dizeres do Movimento Passe Livre somado ao grito da multidão contra a corrupção política se vislumbrou em uma aversão aos partidos. Marina Silva, que não tinha pontos comigo, me lembrou as aulas de história sobre o Diretas Já, onde os políticos de menor representatividade, avistando a mudança nos tabuleiros do poder, mudaram de lado e iniciaram ataques aos políticos da situação (que me recordo foi assim que José Sarney foi para oposição e conseguiu suceder Tancredo). Antes, ela que tentava fundar seu próprio partido, agora fala sobre a necessidade de extinção dos mesmos, acompanhada de outros políticos, que após verem as fortes mídias de direitas se desculpando e mudando de lado, estão fazendo o mesmo.

Blog Overdose Homeopática - De que lado você samba?


Em 1984 J. Figueiredo soltou a polícia, censurou, prendeu e cinco anos mais tarde não tínhamos mais presidentes indicados. Não foi um ano tranquilo, em 24 de fevereiro Belo Horizonte reuniu 400 mil pessoas em protesto, em 10 de abril o Rio de Janeiro assistiu 1 milhão de pessoas e seis dias mais tarde foram 1,5 milhão de pessoas em São Paulo, só para citar os recordes atingidos, mas centenas de municípios se levantaram. 1984 deixou um legado para a história da manifestação popular no Brasil, mesmo que eu ainda acredite que quem tirou os militares do poder fora sua má gerência econômica e resultados negativos que atingiam vários setores, o país mudou, e quase trinta anos depois os filhos dos protestantes de 1984 relembraram os governantes de como ficam insatisfeitos quando a economia enfraquece, reduz sua velocidade ou pior ainda, vai para o negativo.

A história nos diz para não temer, governantes ruins continuarão no poder ou serão substituídos por outros de face diferente e igual carácter. Estamos à frente da Turquia, sem medo de protestar - mesmo com as atitudes policiais dignas de regimes totalitários que são acobertadas pelos grandes meios de comunicação - mas também estamos com medo de, assim como o Egito, mudarmos do ditador ruim para o ditador mal. Turquia ganhou Gezi, a Espanha ganhou leis imobiliárias e nós ganhos alguns reais a menos por mês pelo transporte público. Mas qual será o legado disto? Talvez tão imediato quanto a revolução francesa de 1788/1879 que em um ano e meio mudou a situação política e social daquele país para sempre, ou mais gradual, lenta, dos cinco anos que separam a manifestação popular de sua vontade de mudar o país até a nova constituição em 1988 e eleições em 1989.

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Mas pode existir uma sociedade no século XXI sem políticos como os atuais, e com a vontade do povo diretamente aplicada como regra sobre o próprio povo, sendo eles juízes de si próprios? Utopia, talvez, assim como nossa democracia deveria ser também para os membros de um feudo da Idade Média, presos às suas terras e à mercê dos reis. Mas já passou das 11 horas, acabei de voltar da universidade e estou lendo as notícias das novas leis que pretendem ser aprovadas, leio o que os defensores e opositores dizem, talvez vejo até vídeos e ouço o que meus conhecidos estão dizendo, Manuel Castells estava certo e agora nós decidimos por conta própria nossas leis e a aplicação dos nosso recursos, inicialmente muita confusão, havia muitas pessoas que acreditavam que IPVA ficava na cidade onde o dono do carro morava e servia apenas para asfaltá-la, ninguém sabia ao certo como o sistema tributário funcionava, a hierarquia das leis e sua macro importância. Havia quem acreditava que os políticos corruptos ganhavam mais que grandes empresas sonegadoras, que a corrupção era o pior dos males e que o moralismo iria salvar o país. Mas são 11 horas e 30 minutos, chega de ler e discutir leis, ainda estou me lembrando do cansaço que foi discutir o plano orçamentário do município, somos todos agora 200 milhões de síndicos e as três matérias mais importantes para os romanos voltaram à moda, Discurso, Dialética e Direito. Clico em aprovar, meu nome aparece na lista, todos devem ter certeza de que os números não são manipulados, e vou dormir, amanhã é outro dia, discutiremos outras leis, outros destinos do orçamento dos impostos. Certo nada disto é verdadeiro, ainda tenho que votar em alguém e ficar com a esperança pacífica de que ele melhorará a vida dos brasileiros, mas não me custa sonhar.

Post-scriptum:

(1) Para explicar Marina Silva no texto, e a melhor taxa de aprovação entre os manifestantes - excluindo o presidente do STF que não se pronunciou como candidato:

Jornalista australiana não se contém ao falar dos protestos brasileiros:
Marina Silva estaria ganhando com os protestos:
Marina Silva diz que querem faturar com os protestos:
Marina Silva contra o sistema político e à favor de uma constituinte:
Marina Silva e seu próprio partido:

(2) Para entender o que Manuel Castells está dizendo e pesquisar outros temas semelhantes:

Manuel Castells, para quem estiver com preguiça de usar o buscador:
Analisando manifestações de São Paulo:
Analisando governos democráticos não representativos:
Criticando as críticas que ficam apenas na internet:

(3) Para entender minha opinião sobre a relação governo/economia:

Esta é uma imagem, pequena, mas que mostra a evolução do PIB brasileiro de 1950 a 2000:


Repare neste gráfico alguns anos importantes:
- Piores índices econômicos até então favorecem a apropriação do governo pelos militares, 1964.
- Ato Institucional Número Cinco em 1968, economia forte, governo forte.
- Ernesto Geisel, 1974-1979, inicia lenta transição para democracia, economia em baixa, ditadura em baixa.
- João Figueiredo, 1979-1985, leva o PIB ao negativo e é o último militar presidente.

Grande crescimento do PIB no governo Lula e Dilma, como mostra este gráfico que vai até 2011:
*O PIB do Brasil chegou a ser menor do que o do México em 2004 mas fechou 2011 com valor superior em mais de duas vezes.

O Produto Interno Bruto ficou no vermelho em 2009, em uma época de crise mundial, mas conseguiu prósperos 7,5% no ano seguinte. Tendo problemas em 2011 e 2012 com 2,7% e 0,9%, respectivamente. A agropecuária deixou de ser o sustento do país e passou e ser o maior peso negativo, os pesados investimentos na construção civil e o custo do transporte não foram suficientes, o Brasil se mostra com disposição mas sem infraestrutura para crescer. Os chineses e os japoneses pensam em séculos, nós pensamos em mandatos.

(4) Nota histórica:

- José Sarney era vice com Tancredos neves contra Paulo Maluf, candidatos a primeiro presidente civil depois da ditadura que iniciou em 1964. Tancredo venceu mas morreu vítima de uma infecção hospitalar, J. Sarney assumiu o governo do executivo até a eleição direta pelo povo de Fernando Collor de Mello.
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