Goldenberg Risoto de Camarão

“Conheci um bar que não existe. Um bar que fica numa rua triste, no subúrbio, onde há casas simples com cadeiras na calçada, e na fachada, escrito em cima que é um bar.

Há, neste bar que não existe, pelas inúmeras prateleiras, potes de vidro com cobras lindíssimas preservadas, um aquário, um carcará numa gaiola e um louro livre recebendo a freguesia, imagens de santos em madeira, escudos do Fluminense, galhos de arruda e um cágado sempre próximo aos banheiros, garrafas de todas as cores, e eu juro que ainda sóbrio vi a garrafa azul, a falante, do Visconde de Sabugosa, guardando a melhor aguardente do bar oferecida a uns poucos homens de sorte – além de mesas toscas, luz pouco forte, figas, fotografias.

Há, por trás do balcão do bar que não existe, um homem de sorriso largo e abraço farto recebendo quem chega, comandando o incessante vai-e-vém das garçonetes que dão perfeita conta do bando de loucos que chegam ao bar que não existe.

Há, no bar que não existe, a cerveja mais gelada que jamais bebi, a melhor casquinha de siri que jamais comi e pimentas, do reino, de cheiro, vários molhos, caldos, croquetes, caldeiradas.

E há, mais um dos trunfos do lugar, nas noites de sexta-feira, Waldecir regendo, Bolão no pandeiro e tantã, Nelson no violão, Jorge no cavaco, João no tamborim, seu Augusto e dona Deny cantando; ele, sambas e ela, serestas. Uma espécie de Buena Vista Marechal Club. Eles, que são velhos malandros maneiros e que provavelmente têm São Jorge Guerreiro como fiel protetor, tocam e cantam, das oito a meia-noite, rasgando suas próprias almas e enchendo o bar de uma única e encantadora alma que só existe no subúrbio de gente humilde, que vontade de chorar. Sem vaidade, senhores de seu tempo e de seu talento, arrumam os instrumentos e saem de fininho prometendo timidamente a quem pergunta, voltar na semana seguinte.

Rua General Savaget 67, Adega Tudo do Mar, em Marechal Hermes, fone 24504411. Não está nos guias de bares da cidade e não está nas páginas das revistas. Vá conferir, pergunte pelo Celsão, e me diga depois se aquilo existe.”

http://butecodoedu.wordpress.com/

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