Médico, para que te quero

Por duas vezes senti vontade de ir ao médico nos últimos dois anos, tempo do meu último emprego, e nas duas não fora uma tarefa simples. Sendo uma cidade diferente da que estava acostumado percebi um tratamento superior, na cidade onde agora trabalhava haviam superestimado minha capacidade de organização, vejam, como me vi adoecido em uma manhã de sexta-feira passaram o dia a me mandarem ao médico, mas gosto tanto de médicos que posterguei para ir somente após o horário de trabalho, chegando lá fui avisado que poderia agendar a consulta para o meio da semana seguinte. Não pedi maiores explicações, mas creio ser sensato estar sempre com uma consulta agendada para caso adoecer, infelizmente eu não sabia deste procedimento, mas melhorei no final de semana.
A segunda vez não consegui evitar, e nem a minha falta de previsão me ajudou, como gosto de adoecer aos finais de semana comecei a passar mal no final da sexta-feira, já sabendo dos médicos organizados evitei ao máximo, mas na tarde de sábado acabei sucumbindo, precisava ir até contra minha vontade. 
Fui atendido, até que rapidamente, menos de duas horas e como não era nada grave achei um tempo muito bom - ainda mais comparado ao outro hospital - e este hospital, que não era mantido pela empresa onde eu trabalhava, deveria ser menos organizado e não reclamou da minha indelicadeza de chegar sem pré avisar.

Cinco dias de dispensa médica, mas já me sentia melhor no quarto, uma terça-feira, resolvi aparecer no meu local de trabalho - ficaram sabendo o quanto antes por telefone, mas bem que poderia ter surgido alguma dúvida - e como não acostumado a ir ao médico fui avisado somente então que deveria ir a um outro médico, este validaria o atestado que recebi. Vamos lá agora oras!

_Trouxe o atestado?
_Está aqui.
_Já voltou a trabalhar?
_Não, e ainda não volto amanhã, cinco dias desde o último sábado então volto na quinta-feira.
_O atestado está sem o CID, preciso dele para validar seu atestado.
_O médico que o fez não sabia desta obrigação?
_Não é obrigatório, mas aqui precisa.
_Certo, que faz então?
_Me diga qual foi o teu problema que procuro aqui em uma lista e coloco-o eu mesmo.
_Que bom! Pensei que teria que voltar ao outro médico. Mas não quero dizer.
_Se não me falar não posso validar o atestado.
_Se não validar o atestado então estarei faltando no trabalho hoje, e já faltado ontem. Então digo.
(e eu disse)
_E vou precisar escrever aqui que você me autorizou a colocar o CID.
_Autorizo não. Fui coagido a tal, sou hipossuficiente, um empregado. Se quiser que eu escreva algo irá aparecer a palavra 'coação', pois não tenho outra forma de me sustentar. Sabe o que é hipossuficiência para um juiz trabalhista, certo? Por tal ou me submeto ou passarei por mentiroso que faltou ao trabalho alegando doença agindo de má fé, mas, entrega-me cá ele que deixo por escrito o que tenho a dizer, assim como a constituição, o farei em linguagem coloquial.
(foi cá a primeira vez em que levantou o rosto para me ver, e daqui em diante o tratamento de 'senhor' passou a ser retribuído, deixou de me chamar de você e também parecia estar com menos pressa de encerrar aquilo)

A posteriori eu o observei a querer ligar para algumas pessoas, junto ao pessoal administrativo, não me fizeram mais perguntas, só tive que aguardar, pelas conversas que ouvi outros doutores precisaram ser consultados, sejam médicos ou advogados - que gostam do louvor próprio de assumir assumir tal título - o que terminou fora a entrega de um outro papel, que eu deveria entregar onde trabalho e nele constava a minha dispensa, por motivos médicos, e retorno ao trabalho na quinta-feira.

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